9/01/2007

Lovecraft

Um dos mais carismáticos autores da literatura fantástica, Lovecraft seguiu os passos de Allan Poe na construção de uma obra vasta e peculiar. Seus textos se caracterizam pela construção de universos místicos e misteriosos, pela presença de monstros de formas incompreensíveis, frutos da mistura entre a tradição oral popular e a inventividade do ambiente científico de sua época.


Mas apesar da forte influência de seu antecessor a obra de Lovecraft distancia-se de Poe, na medida em que abre mão da psicologia dos personagens em favor da ausência de explicação plausível, do mistério absoluto. Seus textos criam mitologias próprias e explicam pouco, sugerindo o “inconcebível, indescritível e indizível...” que abrem espaço na mente dos leitores para uma construção imaginária particular. Em Lovecraft cada um cria seu próprio monstro.

Lovecraft é dono de uma biografia recheada por problemas de uma saúde frágil e perdas constantes de pessoas amadas, que transparecem sempre de forma metafórica nos seus contos.

The Outsider foi escrito quando da perda de sua mãe, e revela uma melancolia e uma solidão perturbadoras. O doce monstro da história é um desajustado, à margem da sociedade, “um estranho nesse século e entre os que ainda são homens”, a própria imagem do abandono e da incompreensão.

Universo de monstros intangíveis

A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido. Poucos psicólogos contestarão esses fatos, e a sua verdade admitida deve firmar para sempre a autenticidade e dignidade das narrações fantásticas de horror como forma literária. Contra ela são desferidos os dardos de uma sofisticação materialista que se apega a emoções freqüentemente sentidas e a eventos externos, e de um idealismo ingenuamente inspirado que reprova o motivo estético e reclama uma literatura didática que “eleve” o leitor a um grau apropriado de otimismo alvar.

Lovecraft: autor de sensibilidade devastadora


(...) Mas os sensitivos estão sempre conosco, e às vezes um curioso lampejo de magia invade um recanto obscuro da cabeça mais empedernida; de modo que nenhuma dose de racionalização, de reforma ou de análise freudiana é capaz de anular completamente o arrepio do sussurro no canto da lareira ou da floresta solitária. É decorrência de uma conformação ou tradição psicológica tão real e tão fundamente arraigada na experiência mental quanto quaisquer outras conformações ou tradições da humanidade; coeva do sentimento religioso e intimamente relacionada a muitos dos seus aspectos, é parte por demais intrínseca da nossa herança biológica mais visceral para perder a forte influência que exerce numa minoria significativa, mesmo se não muito numerosa, da nossa espécie.


H. P. Lovecraft, O Horror Sobrenatural na Literatura.

Nenhum comentário: