
9/18/2007
Artefatos do Medo

9/10/2007
Home? I have no home 1955-1994
Home? I have no home. Hunted, despised, living like an animal, the jungle is my home! But I will show the world I can be its master. I shall perfect my own race of people, a race of atomic supermen that will conquer the world!
Bela Lugosi como Dr. Vornoff em Bride of the Monster, Ed Wood, 1955
9/09/2007
Domingo 09
9/07/2007
sexta 07
9/01/2007

Lovecraft
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Lovecraft é dono de uma biografia recheada por problemas de uma saúde frágil e perdas constantes de pessoas amadas, que transparecem sempre de forma metafórica nos seus contos.
The Outsider foi escrito quando da perda de sua mãe, e revela uma melancolia e uma solidão perturbadoras. O doce monstro da história é um desajustado, à margem da sociedade, “um estranho nesse século e entre os que ainda são homens”, a própria imagem do abandono e da incompreensão.


Lovecraft: autor de sensibilidade devastadora
(...) Mas os sensitivos estão sempre conosco, e às vezes um curioso lampejo de magia invade um recanto obscuro da cabeça mais empedernida; de modo que nenhuma dose de racionalização, de reforma ou de análise freudiana é capaz de anular completamente o arrepio do sussurro no canto da lareira ou da floresta solitária. É decorrência de uma conformação ou tradição psicológica tão real e tão fundamente arraigada na experiência mental quanto quaisquer outras conformações ou tradições da humanidade; coeva do sentimento religioso e intimamente relacionada a muitos dos seus aspectos, é parte por demais intrínseca da nossa herança biológica mais visceral para perder a forte influência que exerce numa minoria significativa, mesmo se não muito numerosa, da nossa espécie.
H. P. Lovecraft, O Horror Sobrenatural na Literatura.
O medo como símbolo
Stephen King, Dança Macabra
Paradoxo do Coração

Noël Carrol, A Filosofia do Horror ou Os Paradoxos do Coração.
O Ator Misterioso
Valère Novarina

Outsider
O ator misterioso é aquele que constrói ações, consciente de que, o que é visível aos olhos do espectador é apenas uma pista, que indica o caminho tortuoso que leva ao intenso processo interno e velado que move e justifica essas ações.
Nesse sentido as ações têm um caráter essencialmente poético, na medida em que se conformam como retratos análogos ou metafóricos das idéias e ações explicitadas no texto e na encenação. O ator misterioso não mostra nem conta, ele sugere e descortina. O espectador não assiste impassível a um desenrolar de fatos, mas decifra uma sucessão de sinais artesanalmente justapostos e emitidos através do corpo domado do ator.
O Coração Delator
Todas as habilidades técnicas, produzidas por anos de formação, devem igualmente tornar-se misteriosas, invisíveis frente à necessidade primeira de humanidade do personagem, que torna o seu comportamento crível e a história que vive plausível, apesar de estranha.
A apropriação do texto como disparador e guia para a construção das ações é uma via de mão dupla na qual o ator deixa-se influenciar de maneira absoluta pelas palavras do autor, ao mesmo tempo em que tenta ultrapassar os significados limitados da palavra escrita, deixando antever que o que está falando esconde em suas entrelinhas um território desconhecido de memórias, imagens e estados de alma. O ator está em grande parte do tempo querendo dizer uma coisa, ao mesmo tempo óbvia e distante, que o atormenta e o impele à ação.
Nesse sentido o intenso aproveitamento dramático da pausa serve, para além de suas possibilidades de sugestão e de produção de expectativa, como vínculo definitivo entre ator e espectador, sustentado pela eloqüência do olhar. O silêncio, para o ator misterioso, diz tanto ou mais do que qualquer palavra.

Outsider
A simplicidade dos meios cenográficos obriga o ator a lançar mão de recursos poéticos também no manuseio dos poucos elementos cênicos, que devem colaborar para o desenvolvimento das ações, nunca num sentido ilustrativo ou meramente decorativo, mas assumindo por muitas vezes funções dramáticas específicas, diferentes daquelas do seu uso cotidiano. A idéia é de que esses objetos possam criar, a partir da exploração criativa do ator e tendo em vista as propostas da encenação, uma significação múltipla e enigmática. O ator dá vida aos mistérios do objeto, expondo seus sentidos obscuros e sugerindo uma vida ativa insuspeita nas coisas inanimadas.
O ator misterioso não trabalha com a exposição virtuosa de suas intenções, mas com a contenção de seus impulsos espetaculares, atuando sempre sobre um campo de tensões não ditas e desejos inconfessáveis. Esta tensão crescente encaminha meticulosamente as ações misteriosas até o momento da terrível e fantástica revelação final, no qual o destino fatídico do personagem finalmente vem à tona.
Poe
Jorge Luís Borges

Antes de Poe a maioria dos autores do fantástico trabalhou sem a compreensão da base psicológica da sedução provocada pelo horror, pois criavam cerceados pela conformidade a certas convenções literárias fúteis como o final feliz, a virtude premiada, um didatismo moral oco, a aceitação de valores populares e a defesa das idéias artificiais da maioria. Poe ao contrário percebeu que todas as faces da vida e do pensamento são igualmente apropriadas para o artista e decidiu ser o intérprete desses sentimentos poderosos ligados à dor, à decadência e ao medo, que geralmente apresentam-se como contrários às normas e julgamentos estéticos tradicionais.
A atitude científica de Poe fez com que estudasse a mente humana mais profundamente que seus antecessores góticos, buscando um conhecimento analítico das verdadeiras fontes psicológicas do horror, redobrando assim a força das narrativas e livrando-as da mera confecção convencional de calafrios. No resultado desse trabalho encontramos personagens de malignidade convincente, que inauguram um padrão novo e definitivo de realismo na ficção de horror.
Depois de sua inexplicada morte aos 40 anos, sua obra foi descoberta por Baudelaire que o traduziu para o francês e revelou seu impressionante talento ao mundo. Para o poeta francês Paul Valéry, ele foi “o único escritor impecável”. Para Verlaine e Rimbaud, chegou a ser “o poeta máximo”. Também autores de língua portuguesa foram seduzidos pelos seus versos. Fernando Pessoa e Machado de Assis estiveram entre seus tradutores. Sua obra perpetua-se na influência que exerce nos escritos de Lovecraft, Julio Verne, Kafka, Borges, Cortázar, Stephen King e na obra de encenadores, cineastas e artistas plásticos interessados no fantástico como forma de expressão artística.
A importância literária de Poe é imensa. É um autor fundamental, considerado um importante precursor do gênero fantástico, da ficção científica e do romance policial e o criador do modelo clássico do conto, como forma literária autônoma. Autor de uma vasta obra, na qual contrapõe a imaginação sombria e delirante a um rigoroso apuro formal, oscila entre temas como assassinatos, morte, terror e mistério, colóquios estéticos e filosóficos e textos humorísticos, revelando uma singular capacidade criativa e imensa força dramática.
Sua obra seminal continua a influenciar toda uma linhagem de artistas que se dedicam ao gênero, além de transformá-lo numa espécie de ícone para uma cultura underground urbana composta por diversas tribos que cultuam seus escritos, como obras-primas absolutas do mistério e do sobrenatural. Cada vez mais atual e pungente, a fascinante obra de Edgar Allan Poe nos mostra faces misteriosas e assustadoras da natureza humana, ajudando-nos a questionar as visões mais rasteiras, céticas e desgastadas da nossa própria humanidade.

Renato Turnes